sábado, 21 de setembro de 2013

Conversa


    Eu te encaro. Meu olhar falsamente vazio, seu olhar de desinteresse no meu teatro. Você sabe que tudo isso não passa de fingimento, mas também não se preocupa mais.
    Tento te atingir. Lanço palavras ao vento, afiadas, apontadas para seu rosto, para seus membros, para seu tronco, para seu peito. Nada. Nenhuma delas te atinge, todas perdem a força, revelam-se inúteis. Você me devolve desculpas, a única coisa que soa com sinceridade vindo de você. Sinto meus olhos cheios de lágrimas, de ódio e dor, e desvio-me do teu olhar.
    Você também fica mal, e eu percebo, mas não dou a mínima. Ao mesmo tempo que quero te consolar, quero que você sinta a mesma dor que eu sinto. Em que ponto nossa conversa ficou tão pesada? Em que ponto tornamo-nos estranhos? Em que ponto paramos de ser felizes para sermos automáticos?
    Eu saio do cômodo, você permanece no lugar, o olhar vazio, o sentimento de culpa e a falta de significados paira entre nós. Sei que, quando eu sair de seu caminho, você não vai se importar; um outro vem no meu lugar. Mas você sabe que eu volto, eu sempre volto.
     Eu só queria não ter tanta necessidade de regressar. Eu só queria parar de andar em círculos e, pela primeira vez, sair realmente do lugar.